«I cannot have a
better opportunity for trying the fate of a battle, which, if the enemy should
be unsuccessful, must oblige him to withdraw entirely.»
De acordo com Sir Charles Oman, o
mais reputado historiador da Guerra Peninsular, Sir Arthur Wellesley, à época
Marquês de Wellington, nunca colocou por escrito e de forma detalhada o seu
plano para a campanha de 1813. Portanto, os historiadores tiveram que recorrer
à correspondência de Wellington e a mais algumas referências indiretas para
tentar perceber os seus objetivos e o plano destinado a atingi-los. Do
resultado desse trabalho efetuado por Sir Charles Oman dá-se aqui um pequeno
resumo.
Fotografia da casa em Freineda onde esteve instalado o
quartel-general de Wellington durante o inverno de
1812-1813
Durante o inverno de 1813, no seu
quartel-general de Freineda, Wellington foi desenhando o seu plano para a
campanha que tencionava iniciar na primavera.
Na sua mente estava a intenção de
não repetir os erros que tinham acorrido durante a campanha de 1812, tendo o
plano sido progressivamente afinado à luz dos acontecimentos que se iam
desenrolando quer na Península quer na Grã-Bretanha e no Leste da Europa.
Na Europa, a derrota de Napoleão
na Rússia levou ao enfraquecimento militar e político da França e essa situação
não deixou de ter consequências para o poder napoleónico na Península.
Em Espanha, José Bonaparte,
usurpador do trono, encontrava-se numa situação progressivamente mais difícil
desde que os exércitos franceses abandonaram o sul do país em 1812, perdendo
importantes recursos para o governo espanhol centrado em Cádiz. Além disso a intensa
atividade dos grupos de guerrilha que alimentava a rebelião nas províncias do
norte de Espanha provocava grande desgaste e obrigava à dispersão das forças
francesas. Para piorar, Napoleão retirou da Península importantes recursos militares,
de que necessitava para continuar a guerra no centro da Europa, enfraquecendo
ainda mais o poder francês.
Do outro lado, Wellington conhecia
bem a situação francesa graças às informações recolhidas na grande quantidade
de correspondência francesa capturada e pela ação dos insurgentes espanhóis.
Na Grã-Bretanha, apesar do
desaire da campanha de 1812, o crédito granjeado por Wellington permitiu-lhe
continuar a ter todo o apoio do seu Governo e obter importantes reforços
nomeadamente em cavalaria, da qual o exército aliado tinha sido sempre
deficitário.
Na Península, a sua nomeação como
Generalíssimo dos exércitos espanhóis em 18 de Novembro de 1812 deu-lhe não só
o poder de comandar diretamente as tropas espanholas mas também a autoridade
necessária para mobilizar recursos materiais necessários à campanha militar a
que se propunha e cujo cenário seria o território do centro e norte de Espanha.
Engraved
for the Illustrated London News in 1852, after the drawing by the Countess of
Westmorland of September 1839
As palavras concisas do próprio Wellington
dão-nos a conhecer o plano de manobra que pretendia levar a cabo no que
considerava ser a primeira parte da campanha. Ficam essas palavras, retiradas
do seu despacho de 11 de Maio de 1813 para Lord Bathurst, Secretário da Guerra no
governo britânico:
«I propose on this
side to commence our operations by turning the enemy’s position on the Duero,
by passing the left of our army over that river within the Portuguese frontier.
(…) I therefore propose to strengthen our right and to move with it myself
across the Tormes, and establish a bridge on the Duero below Zamora. The two
wings of the army will thus be connected, and the enemy’s position on the Duero
will be turned.
The Spanish army of
Galicia will be on the Esla on the left of our army at the same time that our
army will be on that river.
Having turned the
enemy’s position on the Duero, and established our communication across it, our
next operation must depend upon circumstances. I do not know whether I am now
stronger than the enemy, even including the army of Galicia; but of this I am
very certain, that I shall not be stronger throughout the campaign, or more
efficient, than I now am; and the enemy will not be weaker. I cannot have a
better opportunity for trying the fate of a battle, which, if the enemy should
be unsuccessful, must oblige him to withdraw entirely.»[1]
[tradução:] «Eu proponho neste lado iniciar as nossas operações flanqueando as posições do inimigo no Douro, fazendo a esquerda do nosso exército passar esse rio dentro da fronteira portuguesa. (…) Proponho então reforçar a nossa direita e mover com ela através do Tormes, e estabelecer uma ponte no Douro abaixo de Zamora. As duas alas do exército serão dessa forma ligadas, e a posição do inimigo no Douro será torneada/flanqueada.
[tradução:] «Eu proponho neste lado iniciar as nossas operações flanqueando as posições do inimigo no Douro, fazendo a esquerda do nosso exército passar esse rio dentro da fronteira portuguesa. (…) Proponho então reforçar a nossa direita e mover com ela através do Tormes, e estabelecer uma ponte no Douro abaixo de Zamora. As duas alas do exército serão dessa forma ligadas, e a posição do inimigo no Douro será torneada/flanqueada.
O exército espanhol da Galiza estará no Esla à esquerda do
nosso exército ao mesmo tempo que o nosso exército estará nesse rio.
Após tornear a posição do inimigo no Douro, e estabelecendo
a nossa comunicação além dele, a nossa próxima operação depende muitos das
circusntâncias. Não sei se sou agora mais forte que o inimigo, mesmo incluindo
o exército da Galiza, mas disto tenho muita certeza, que não serei mais forte
ao longo da campanha, ou mais eficiente, do que sou agora; e o inimigo não será
mais fraco. Não consigo encontrar uma melhor oportunidade para tentar o destino
de uma batalha, que, caso o inimigo seja mal sucedido, o obrigue a retirar
totalmente.»
Depois de concentrar todo o
exército na margem direita do Douro, Wellington diz-nos que seriam as
circunstâncias a ditar a sua ação. Mas Wellington já tinha tomado uma série de providências
destinadas a aproveitar eventuais circunstâncias
favoráveis.
Talvez a mais importante dessas
providências fosse a transferência da sua principal base de apoio de Lisboa
para a Coruña e outros portos no norte de Espanha, encurtando assim a distância
a percorrer pelos abastecimentos vindos da Grã-Bretanha. Para garantir essa
transferência, Wellington pediu para que a Royal
Navy assegurasse o controlo da costa norte de Espanha e da Baia da Biscaia,
negando o acesso aos franceses, apoiando os insurgentes espanhóis e o próprio
exército aliado quando fosse necessário.
Outra providência tinha sido o
pedido para a constituição na Grã- Bretanha de um trem de artilharia de cerco
para lhe ser enviado em caso de ser necessário investir e assaltar praças-fortes.
Por fim, tornando-se
comandante-em-chefe de todos as forças aliadas na Península, Wellington pôde coordenar
o seu esforço a partir de Portugal com a ação da força anglo-siciliana e
espanhola que operava na costa mediterrânica, importante para fixar o Armèe d’Aragon do Marechal Suchet na
defesa de Valência, impedindo-o de apoiar os exércitos franceses a ocidente.
Os planos e providências de
Wellington eram ambiciosos e permitem afirmar que ele considerava a campanha de
1813 como decisiva e que o seu objetivo não era outro que não fosse acabar
definitivamente com o poder francês na Península.
Bibliografia:
Sir Charles Oman, A History of the Peninsular
War, Volume VI.
The Dispatches of Field Marshall The Duke of
Wellington, (…) compiled (…) by Lieut. Colonel Gurwood. Volume X.
[1]The Dispatches of
Field Marshall The Duke of Wellington, (…) compiled (…) by Lieut. Colonel
Gurwood, volume x, p. 372.
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