terça-feira, 25 de junho de 2013

Vozes de Vitoria: José Correia de Melo

«…tive um cavalo ferido, que logo morreu, e o chapéu furado; porém, antes assim que pelo indivíduo.»

Um outro testemunho pessoal sobre a batalha de Vitoria é o do major José Correia de Melo. Este oficial comandou na batalha o 2º batalhão do regimento de infantaria nº 11, que com o nº 23 e o batalhão de caçadores nº 7, compunham a brigada portuguesa comandada pelo coronel Thomas Stubbs, parte integrante da 4ª divisão aliada.
José Correia de Melo, sobrinho do marechal de campo José Correia de Melo e do Tenente-General Florêncio José Correia de Melo, tinha apenas 26 anos em 1813, mas era já um veterano da guerra na Península, tendo estado presente na batalha do Buçaco e na de Salamanca, onde foi gravemente ferido.

As unidades portuguesas da brigada Stubbs distinguiram-se em Vitoria, tendo sofrido baixas consideráveis ao liderarem o avanço da 4ª divisão aliada no ataque ao centro da posição francesa. Estas perdas decorreram sobretudo do fogo da artilharia francesa.
Os regimentos de infantaria nº 11 e 23 foram particularmente elogiados pelo comandante do exército português, o marechal William Beresford, na ordem do dia do exército de 1 de Julho de 1813.


(Battle of Vitoria, after William Heath)

José Correia de Melo manteve um diário durante as campanhas peninsulares, que Claudio de Chaby, historiador português da Guerra Peninsular, pode consultar e que citou frequentemente na sua obra clássica Excerptos Históricos.
Uma das passagens citadas por Chaby corresponde precisamente à entrada datada de 21 de Junho, dia em que se travou a batalha de Vitoria. É esse breve testemunho que aqui deixamos:

«Junho, 21: Havendo feito Wellington o seu reconhecimento às posições do exército francês, comandado em pessoa pelo célebre rei Pepe [o rei José], ordenou pôr todas as divisões em movimento logo pela manhã, para lhe dar uma ação; e com efeito, assim acontece durando a peleja desde as oito horas da manhã até às nove da noite. Por causa da grande escuridão não foi o inimigo perseguido além de duas léguas da cidade. Deixaram os franceses imensidade de bagagens, muita riqueza, muitos prisioneiros, cento e cinquenta e uma peças de artilharia, quatrocentos e oitenta carros de transporte, imensas munições, enfim, é incrível a derrota que lhes causámos. Eu comandei o segundo batalhão do meu regimento durante a ação, tive um cavalo ferido, que logo morreu, e o chapéu furado; porém, antes assim que pelo indivíduo.
Direi o que me contaram e vem a ser: quando o rei Pepe viu que lord Wellington tratava de lhe cortar a retirada, tendo ocupado a estrada real de Bayonna, tirando de um mapa, decidiu com os seus generais retirar-se imediatamente pelo caminho de Pamplona, único que lhe restava; e assim o praticou levando apenas duas peças e um obus!» [1]

Bibliografia:
Claudio de Chaby, Excerptos Historicos e Collecção de Documentos relativos à Guerra denominada da Península…., 1863-1882.
Generais do Exército Português, coord. Coronel António José Pereira da Costa, 2008.
Mendo Castro Henriques, Vitoria e Pirinéus -1813- O exército português na libertação de Espanha, 2009.



[1] Excerptos Históricos e Collecção de Documentos relativos à Guerra denominada da Península… por Claudio de Chaby, volume 4, p. 707-708.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Documenta: A Brigada do Minho na Batalha de Vitória


DOCUMENTO
Relatório do Major General Power, comandante da Brigada do Minho

"Quando a conduta de todos é sumariamente boa, é dificultoso particularizar merecimento pessoal."

Portugueses na Recriação da Batalha de Vitória, em 2013. Não é visível,
mas a maioria dos recriadores usa o uniforme de Infantaria 21, a
unidade portuguesa que mais baixas sofreu. (Foto de Zarate)

Carta escrita pelo Major General Manley Power, comandante da brigada portuguesa da 3.ª Divisão (Picton's) ao Ajudante General do Exército, dando informação sobre a prestação do seu comando, nomeadamente dos quatro batalhões dos Regimentos de Infantaria n.º 9 (de Viana) e n.º 21 (de Valença), e das quatro companhias de granadeiros, desses regimentos, que atuaram como vanguarda da brigada. 
O Batalhão de Caçadores n.º 11, também da brigada, actuou fora dela, destacado sobre o comando superior do Coronel John Keane, noutra brigada da 3.ª Divisão (possivelmente a 1.ª Brigada de Thomas Brisbane). 
Durante a parte mais ativa dos combates, nas vizinhanças de Arinez, a brigada portuguesa de Power, que será depois numerada de 8.ª Brigada de Infantaria, fez a esquerda da linha da 3.ª Divisão, sofrendo 411 baixas no total, 44,6% de todas as baixas das unidades portuguesas nesse dia.
A 3.ª Divisão, cujas baixas representaram um pouco mais de um terço de todo o Exército Aliado tomou a ponte de Tres Puentes, ficou exposta a forte artilharia inimiga e um contra ataque francês à ala direita, em função do demasiado rápido avanço da divisão e falta de apoio das outras divisões nesta parte da batalha.

Major General Manley Power (1773-1826)
Comandante da Brigada Portuguesa da 3.ª Divisão
(retirado de Wikicommons)
«N.º 2

Junho, 23 [1813]

Em observância às ordens de sua Excelência (…) senhor W.[illiam] C.[arr] B.[resford] K.[night] [of] B.[ath] M.[arquês] de C.[ampo] M.[aior] que tive a honra de receber ontem, peço licença para levar à presença de S. Ex.ª a minha narração relativa aos oficiais da Brigada que comando durante a acção perto de Vitória a 21 do corrente.

Quando a conduta de todos é sumariamente boa, é dificultoso particularizar merecimento pessoal; contudo não posso deixar de recomendar em primeiro lugar o Tenente Coronel [Charles] Sutton, comandante do Regimento n.º 9, e o major [Francisco Joaquim] Carreti do Regimento n.º 21 cuja presença de espírito no meio de um fogo ativíssimo a que estava exposto, eu muito bem observei, como também a do Major [George William] Paty, oficial do maior merecimento, e o Capitão Mathias [José] de Souza, cada um comandante de um Batalhão do regimento n.º 9 e cujos esforços são por si mesmos louváveis. Tenho também a acrescentar os nomes do Capitão António Azevedo e Cunha, e do capitão [John] Graham, e do Ajudante José António Pereira d’Eça, do regimento n.º 21, cuja conduta durante a ação esteve debaixo da sua imediata observação, e a qual foi também particularmente mencionada pelo Major Carreti.

As companhias de Granadeiros daqueles corpos que formavam vanguarda debaixo do comando do Major [Archibald] Ross [Inf. 9] merece a minha maior recomendação, e eu peço licença muito particularmente este oficial a S. Ex.ª. Tenho pesar de observar que ele foi gravemente ferido, como também os capitães comandantes daquelas companhias [William] Cotter [Inf. 9], Jermijn [Samuel Beresford Jermyn, Inf. 21], António José Soares [Inf. 21] e Fernando de Villas Boas [Inf. 9], o último destes oficial excelente tenho pena de saber que morreu.

Relativamente ao Batalhão de Caçadores n.º 11, comandado pelo Tenente Coronel [Thomas] Durzback eu entendo que ele se comportou notavelmente bem, porém como esteve desligado não teve ocasião de o observar, portanto incluo para informação de S. Ex.ª a parte do Coronel [John] Keane, debaixo de cujas ordens esteve aquele corpo, como também incluo a parte que deu o tenente Coronel Durzback.

Sou feliz de ter esta ocasião para mencionar o meu ajudante de campo, o Capitão [James] Johnston cujo zelo, conhecimentos, atividade e modo tenho assaz reconhecido nesta ocasião, assim como em outras desde que estou ao serviço português, e por quem eu respeitosamente solicito algum sinal de agradecimento e aprovação de S. Ex.ª & em justiça ao meu Major de Brigada João Leandro de Macedo Valadas, eu não posso omitir de reconhecer os seus serviços nesta última ocasião.»

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Este documento foi transcrito a partir do acervo do Arquivo Histórico Militar,  1.ª Divisão, 14.ª Secção, Caixa n.º 243, 18. A ortografia foi modernizada.

domingo, 23 de junho de 2013

Documenta: Relatórios de Artilharia referentes à Batalha de Vitória


Tenente Coronel Alexander Dickson,
(1815, Edme Quedeney)
National Portrait Gallery, Londres
Documento n.º 1
Relatório do Tenente Coronel Alexander Tulloh ao Ajudante General do Exército, três dias após Vitória, referindo as unidades de artilheria portuguesa, sob o seu comando, que entraram em ação em Vitória, a 21 de junho, e os militares desta arma que se destacaram. Estas unidades estavam associadas à Divisão Portuguesa, sob o comando do Conde de Amarante, e inseriam-se na Ala Direita do Exército Aliado, sob o comando do general Sir Rowland Hill.

«Illustríssimo Senhor,

Em resposta ao ofício de Vossa Senhoria datado de 22 do corrente, tenho a honra de dizer que a 3.ª Brigada de Calibre 6 não entrou em ação, mas sim a 4.ª Brigada de Calibre 9. O Capitão Michell [Charles Cornwallis Mitchell] do Regimento de Artilharia 3, comandante da brigada, sofrendo, desde que comanda a dita brigada, uma febre contínua esteve presente no fogo, e conduziu-se excelentemente. Lembro a Vossa Senhoria a boa conduta, zelo e atividade deste capitão, assim como também a do 1.º Tenente do Regimento de Artilharia 4, José Joaquim Barreiros, e Vicente António Buys, 2.º Tenente do Regimento de Artilharia 2, e igualmente o 1.º Sargento António Vicente de Abreu, e do Cabo José Xavier, do regimento n.º 2, pelas mesmas razões, e rogo a Vossa Senhoria faça constar a Sua Excelência o Marquês de Campo Maior [William Carr Beresford] os merecimentos dos indivíduos acima referidos.
Como a brigada que entrou em ação foi tão feliz que não teve perda alguma, exceto uma besta de tiro ferida, peço que Vossa Senhoria me desculpe em não remeter mapa algum.

Deus Guarde a Vossa Senhoria, Campo, 24 de junho de 1813.

Illmo. Sr. Manuel de Brito Mozinho
Ajudante General do Exército

[assina] Alex[ander]. Tulloh
Tenente Coronel Comandante das Brigadas de Artilharia Volante»

Documento n.º 2
Apresenta-se aqui um excerto deste documento que é um mapa, na forma de tabela, assinado pelo Tenente Coronel Alexander Dickson, a 26 de junho, e anexo ao documento n.º 3, indicando as baixas de cada uma das unidades de artilharia portuguesa, assim como o número de munições gastas na Batalha de Vitória. Coloca-se este documento antes do documento n.º 3, porque apesar de lhe estar anexo, precede-o em três dias.

«MAPA DE CAZUALIDADES (…) [Arazuri, 26.6.1813]

1.ª Brigada de  Calibre 9:

Mortos: 1 cabo/soldado
Feridos: 1 cabo/soldado

Munições gastas:

8 granadas de obús de 5 ½ polegadas
90 de peça com bala raza

3.ª Brigada de Calibre 6:

(nada consta)

4.ª Brigada de Calibre 9

Feridos: Bestas do Parque: Macho … 1

Munições gastas:

22 de peça com bala raza»

(assina Tenente Coronel Dickson)


Major Arriaga, comandante
da 1.ª brigada de artilharia.

Documento n.º 3
Relatório do Tenente Coronel Alexander Dickson ao Ajudante General do Exército, três dias após Vitória, referindo as unidades de artilheria portuguesa, sob o seu comando, que entraram em ação em Vitória, a 21 de junho, e a prestação dos comandantes de brigadas. Estas unidades estavam não só associadas à Divisão Portuguesa, sob o comando do Conde de Amarante, mas também na artilheria de reserva do exército.

«Illustríssimo Senhor Manuel de Brito Mozinho

Remeto a Vossa Senhoria o Mapa de Mortos e Feridos que houveram em as Brigadas de Artilharia Portuguesa, e dos gastos de munições, tudo na batalha do dia 21 do corrente mês, e tenho a informar a Vossa Senhoria para conhecimento do Excelentíssimo Senhor Marechal Marquês de Campo Maior, que o Senhor Tenente Coronel Harteman [Julius Hartman], comandante de toda a artilharia de reserva, me fez ciente do bom comportamento que tivera a 1.ª Brigada de Artilharia do Major Arriaga [Sebastião José de Arriaga Brum da Silveira, na foto], pelo bom e bem acertado fogo que fizera; enquanto a 3.ª e 4.ª Brigadas que se acham comandadas pelo senhor Tenente Coronel Tulloh só sei que a 3.ª não entrara em acção, e que a 4.ª só gastara 22 tiros, e que o Senhor Conde de Amarante ficara satisfeito com o fogo que ela fizera.
Até quanto possa ao presente informar a Vossa Senhoria.

Deus Guarde a Vossa Senhoria,  Vila Capeda, 29 de Junho de 1813

[assina] A.[lexander] Dickson
Tenente Coronel
Comandante de Artilheria»


Estes documentos foram transcritos a partir do acervo do Arquivo Histórico Militar,  1.ª Divisão, 14.ª Secção, Caixa n.º 243, 18.

sábado, 22 de junho de 2013

A assignalada Victoria de 21 de Junho

As primeiras notícias sobre a batalha de Vitoria chegaram a Lisboa nos últimos dias de Junho de 1813 e foram publicadas pela Gazeta de Lisboa – o periódico oficial do governo – na sua edição extraordinária de 30 de Junho de 1813. Os despachos oficiais enviados pelo marquês de Wellington só foram publicados pelo mesmo periódico na sua edição extraordinária de 4 de Julho de 1813.
Nesta edição extraordinária apresentaram-se dois despachos de Wellington – assinando com o seu premonitório título português, duque da Victoria – para Dom Miguel Pereira Forjaz, secretário de estado da guerra no governo de Lisboa, relatando as operações do exército aliado e as circunstâncias da batalha.
Estes despachos foram entregues em mão pelo major Conde de Vila Flor, ajudante de campo do marechal Beresford,  marquês de Campo Maior, e que tinha saído no dia 25 de Julho do quartel-general aliado de Irurzun.
Os dados que publicamos abaixo baseiam-se nos mapas relativos às perdas do exército português na batalha de 21 de Junho anexados àqueles despachos, e que também foram publicados no mesmo número da Gazeta.

Mapa dos mortos, feridos e extraviados na ação contra o inimigo ao pé de Victoria no dia 21 de Junho de 1813:

Estado-Maior: 1 tenente-coronel e 1 capitão feridos;
Artilharia: 1 soldado e 1 cavalo morto; 1 soldado ferido;
Cavalaria nº 6: 6 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 1: 1 tambor, 4 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 3: 1 capitão, 1 tenente 1 sargento e 11 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 6: 2 soldados mortos e 16 soldados feridos;
Infantaria nº 9: 2 alferes, e 32 cabos e soldados mortos; 1 major, 3 capitães, 1 tenente, 4 alferes, 1 porta-bandeira, 8 sargentos e 169 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 10: 2 soldados feridos;
Infantaria nº 11: 1 sargento e 24 cabos e soldados mortos; 1 major, 2 capitães, 2 tenentes, 2 alferes, 1 porta-bandeira, 5 sargentos e 128 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 15: 11 cabos e soldados mortos; 1 major, 1 capitão, 1 sargento e 18 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 16: 1 capitão e 7 cabos e soldados mortos; 1 capitão, 1 alferes, e 49 cabos e soldados feridos;  
Infantaria nº 17: 1 sargento, 1 tambor, e 1 soldado mortos; 1 alferes, 1 sargento, e 20 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 21: 2 capitães, e 1 tenente, 1 sargento e 23 cabos e soldados mortos; 3 capitães, 2 tenentes, 5 alferes, 9 sargentos, 196 cabos e soldados feridos;
Infantaria nº 23: 7 cabos e soldados mortos; 1 major, 1 capitão, 2 alferes, 2 sargentos e 68 cabos e soldados feridos;
Caçadores nº 1: 2 soldados mortos e 1 soldado ferido; 
Caçadores nº 4: 1 sargento e 9 cabos e soldados mortos; 1 capitão, 1 alferes, 3 sargentos e 27 cabos e soldados feridos;
Caçadores nº 6: 1 alferes e 1 soldado mortos; 9 cabos e soldados feridos;
Caçadores nº 7: 10 cabos e soldados mortos; 1 capitão, 2 tenentes, 1 alferes e 30 cabos e soldados feridos;
Caçadores nº 8: 7 cabos e soldados mortos; 1 capitão, 1 alferes, 3 sargentos e 46 cabos e soldados feridos;
Caçadores nº 11: 2 cabos e soldados feridos; 2 tenentes, 1 alferes, 2 sargentos e 10 cabos e soldados feridos;

Total da perda portuguesa neste dia:
3 capitães, 1 tenente, 3 alferes, 4 sargentos, 1 tambor e 138 cabos e soldados mortos; um cavalo morto;
1 tenente-coronel, 4 majores, 16 capitães, 10 tenentes, 19 alferes, 2 porta-bandeiras, 35 sargentos, 1 tambor, e 811 cabos e soldados feridos.


(Desenho do capitão Manuel Isidro da Paz. ANTT)
Nomes dos oficiais do Exército Português mortos no dia 21:
Capitão Lynche, de Infantaria nº 16; capitão Manuel Vicente de Sequeira de Infantaria nº 21; o capitão Carlos João de Araújo de Infantaria nº 21; o tenente João Palmer de Infantaria nº 21; os alferes Martinho da C. Rego e João Malheiro de Infantaria nº 9; o alferes António Osório de Caçadores nº 6.

Nomes dos oficiais do Exército Português feridos:
Estado-Maior: o tenente-coronel Harding, DQMG, (gravemente); o capitão Fitzgerald, major de brigada (levemente);
Infantaria nº 3: o capitão Smith (gravemente); o tenente Vicente José Cordeiro (levemente);
Infantaria nº 9: o major Ross; os capitães Mathias José de Sousa, Fernando de Villas Boas (falecido) e Guilherme Cotter; o tenente Martinho Quezado de Villas Boas; os alferes Thomaz José Magiel, Ignacio Lopes Barreto, Joaquim Nunes de Mattos, António Pimenta da Gama; o ajudante Caetano José Gomes;
Infantaria nº 11: o major Donahue (levemente); os capitães João de Gouvea (levemente), Jorge Phiffen (gravemente), os tenentes Manoel dos Santos (gravemente) e Luiz Pinto (levemente); os Alferes José António Ribeiro (levemente), Fernando José de Gouveia (gravemente);
Infantaria nº 15: o major A. Campbell, (gravemente); o capitão Bernardo Baptista (levemente);
Infantaria nº 16: o capitão Manoel José Xavier (levemente); o alferes Fernando Telles da Silva Penalva (levemente);
Infantaria nº 17: o alferes José António da Silva Araújo (levemente);
Infantaria nº 21: os capitães Samuel Jermyn, António José Soares, e Diogo Machado Paes; os tenentes Galbraith e Fernando de Lima Lobo; os alferes João António Pinto, Tristão de Araújo Abreu; António José Soares; Joaquim Pereira d’Eça, José de Oliveira;
Infantaria nº 23: o coronel Thomaz Guilherme Stubbs; o major Francisco de Paula de Azeredo (gravemente); o capitão Francisco José Pereira (levemente); os alferes Salvador da Cunha e Joaquim Ribeiro d’Almeida (levemente);
Caçadores nº 4: o capitão Macgregor (gravemente) e o alferes José de Figueiredo Frazão (levemente);
Caçadores nº 7: o capitão Thomaz Joaquim Pereira Valente (levemente); o tenente Pedro Paulo Ferreira de Sousa (gravemente); o tenente Frederico César de Freitas (levemente); o alferes João Crisóstomo Veloso e Horta (levemente);
Caçadores nº 8: o capitão António Carlos Pereira de Macedo (gravemente), o alferes José Joaquim da Silva Pereira (gravemente);
Caçadores nº 11: os tenentes António Rodrigues da Silva, Pedro de Magalhães Peixoto; o alferes António Justiniano Vidal;

Nota: Nos periódicos da época é frequente que os nomes dos oficiais apareçam escritos de forma errada, o que deriva principalmente da transcrição de manuscritos. Assim procurou-se compará-los com outras fontes e obter os nomes corretos, corrigindo a lista publicada na Gazeta quando possível. Para os oficiais britânicos recorreu-se a vários artigos da autoria de João Torres Centeno e ao «Peninsula Roll Call» de Lionel Challis publicado no site Napoleon Series.





sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vozes de Vitoria: José Jorge Loureiro

«Tudo foram manobras e atiradores.»

Durante a campanha que se iniciou em Maio de 1813, e que levaria o exército anglo-luso até às fronteiras da França, José Jorge Loureiro foi alferes do regimento de infantaria nº4 e ajudante de campo do brigadeiro britânico ao serviço de Portugal, Archibald Campbell, e foi nesta condição que assistiu à decisiva batalha de Vitoria, travada a 21 de Junho de 1813.
O brigadeiro Campbell comandava a brigada portuguesa composta pelos regimentos de infantaria nº 4 e nº 10 e pelo batalhão de caçadores nº 10, parte da divisão portuguesa comandada pelo General Francisco da Silveira, Conde de Amarante.
A divisão portuguesa fazia parte do corpo comandado pelo general Rowland Hill que na batalha de Vitoria constituiu a ala direita do exército aliado.


A brigada Campbell manteve-se durante a batalha numa posição de reserva na ala direita da linha aliada.
Durante este período da sua vida, Loureiro manteve correspondência com o seu cunhado e amigo Ernesto Biester, e é precisamente numa dessas cartas que Loureiro deu a sua visão sobre os acontecimentos de Vitoria. Foi publicada originalmente por Mendes Leal Junior na Revista Contemporânea de Portugal e Brazil, segundo ano, abril de 1860, I, Lisboa, p. 100 e seguintes.

Transcreve-mos, atualizando a ortografia, este raro testemunho presencial de um oficial português.

Campo junto a Salvaterra, 23 de Junho, de 1813.

Querido Ernesto

Apresso-me a participar-te os acontecimentos do dia 21 do corrente, o dia mais glorioso que até agora tem tido os exércitos aliados neste país. Como deves querer circunstanciadamente saber o acontecido, vou dizer-te o que presenciei, e o que tenho ouvido depois.
No dia 21 avançou todo o exército das margens do Bayas em diferentes colunas sobre Vitória. O corpo do general Hill fazia a direita de todo o exército, e como tinha menos a marchar foi o primeiro que encontrou a esquerda do inimigo, o qual tinha esta numa montanha, e fazia uma linha obliqua com a direita cobrindo Vitória. Sobre outras montanhas, junto à estrada real de Bayona todo o exército inimigo estava em posição. Tinha na frente da sua esquerda um denso bosque, que pretendeu disputar com caçadores. Logo que chegamos, principiou-se o ataque com uma brigada inglesa, e a minha divisão fazendo a reserva. As outras brigadas vagarosamente subiam uma escarpada montanha para tornear o inimigo. Como o resto do exército ainda não tinha chegado aos pontos determinados, o nosso ataque foi muito demorado e de entretenimento. Os franceses com coragem e êxito defendiam o bosque somente com atiradores, apoiados por alguma artilharia sobre a estrada, a qual não nos fez dano algum. Continuou por espaço de duas horas o ataque desta maneira, até que o general Graham, tendo pela nossa esquerda torneado o inimigo, começou também o seu ataque. Então fez-se a ação geral. Os franceses, que esperavam o ataque todo na sua esquerda, vendo-se de repente torneados, começaram a retirar a sua direita já em bastante confusão. A este tempo tinha a nossa direita avançado bastantemente sobre a montanha, e vendo-se a esquerda inimiga a ponto de ser igualmente flanqueada, começou também com muita celeridade e confusão a sua retirada. A minha brigada, que protegia a brigada inglesa que fazia o ataque, marchou no alcance dos franceses, assim como todo o exército. Como o terreno era todo cultivado e com muitas valas para marcaras terras e dar vazante às águas dos montes, nunca podemos ir com a velocidade necessária; e eles aproveitaram-se da ordem em que nós marchávamos para se debandarem e tornarem a reunir-se noutro ponto. O terreno era-lhes tão favorável, que apresentava a cada passo pequenas posições, das quais foram sempre desalojados por atiradores, e manobras, com as quais se achavam a cada passo correndo perigo de serem cortados por ambos os flancos. Durou a perseguição todo o dia até noite fechada, e no espaço de duas léguas e meia, contando do lugar onde começou a ação. Deixaram livre a estrada de Bayona, e retiraram-se pelo caminho real de Pamplona, no qual nós hoje estamos em seu seguimento. Perderam 105 peças de artilharia com os seus pertences, e mais de 2000 carros de bagagem, quase todas as do exército. O rei José perdeu também toda a sua dentro de Vitória, assim como 24 criados. Só escaparam os cavalos à mão. Fizemos 700 a 800 prisioneiros, e 180 oficiais. Os generais Sourry e Grenier mortos, e 2 prisioneiros (ignoro os nomes). Os nossos soldados estão cheios de riquezas do saque. A nossa perda em mortos e feridos é maior que a do inimigo; porém os feridos são quase todos levemente. Não há general nenhum nosso ferido. A maneira com que o inimigo retirou é vergonhosissima. A posição que tomou, e o modo com que se deixou flanquear não dá crédito algum aos seus generais. A minha brigada, ainda que não entrou em fogo, fez um serviço nada pequeno, pois marchando com velocidade incrível ameaçou sempre muito de perto a esquerda do inimigo.
Há 23 dias que marchamos sem fazer alto, e creio não o fazermos sem irmos a Pamplona.
A ação começou às 11 da manhã, tornou-se geral pelas duas, e acabou à noite.
Não houve ataque nenhum regular. Tudo foram manobras e atiradores.

Adeus Amigo

Loureiro