terça-feira, 25 de junho de 2013

Vozes de Vitoria: José Correia de Melo

«…tive um cavalo ferido, que logo morreu, e o chapéu furado; porém, antes assim que pelo indivíduo.»

Um outro testemunho pessoal sobre a batalha de Vitoria é o do major José Correia de Melo. Este oficial comandou na batalha o 2º batalhão do regimento de infantaria nº 11, que com o nº 23 e o batalhão de caçadores nº 7, compunham a brigada portuguesa comandada pelo coronel Thomas Stubbs, parte integrante da 4ª divisão aliada.
José Correia de Melo, sobrinho do marechal de campo José Correia de Melo e do Tenente-General Florêncio José Correia de Melo, tinha apenas 26 anos em 1813, mas era já um veterano da guerra na Península, tendo estado presente na batalha do Buçaco e na de Salamanca, onde foi gravemente ferido.

As unidades portuguesas da brigada Stubbs distinguiram-se em Vitoria, tendo sofrido baixas consideráveis ao liderarem o avanço da 4ª divisão aliada no ataque ao centro da posição francesa. Estas perdas decorreram sobretudo do fogo da artilharia francesa.
Os regimentos de infantaria nº 11 e 23 foram particularmente elogiados pelo comandante do exército português, o marechal William Beresford, na ordem do dia do exército de 1 de Julho de 1813.


(Battle of Vitoria, after William Heath)

José Correia de Melo manteve um diário durante as campanhas peninsulares, que Claudio de Chaby, historiador português da Guerra Peninsular, pode consultar e que citou frequentemente na sua obra clássica Excerptos Históricos.
Uma das passagens citadas por Chaby corresponde precisamente à entrada datada de 21 de Junho, dia em que se travou a batalha de Vitoria. É esse breve testemunho que aqui deixamos:

«Junho, 21: Havendo feito Wellington o seu reconhecimento às posições do exército francês, comandado em pessoa pelo célebre rei Pepe [o rei José], ordenou pôr todas as divisões em movimento logo pela manhã, para lhe dar uma ação; e com efeito, assim acontece durando a peleja desde as oito horas da manhã até às nove da noite. Por causa da grande escuridão não foi o inimigo perseguido além de duas léguas da cidade. Deixaram os franceses imensidade de bagagens, muita riqueza, muitos prisioneiros, cento e cinquenta e uma peças de artilharia, quatrocentos e oitenta carros de transporte, imensas munições, enfim, é incrível a derrota que lhes causámos. Eu comandei o segundo batalhão do meu regimento durante a ação, tive um cavalo ferido, que logo morreu, e o chapéu furado; porém, antes assim que pelo indivíduo.
Direi o que me contaram e vem a ser: quando o rei Pepe viu que lord Wellington tratava de lhe cortar a retirada, tendo ocupado a estrada real de Bayonna, tirando de um mapa, decidiu com os seus generais retirar-se imediatamente pelo caminho de Pamplona, único que lhe restava; e assim o praticou levando apenas duas peças e um obus!» [1]

Bibliografia:
Claudio de Chaby, Excerptos Historicos e Collecção de Documentos relativos à Guerra denominada da Península…., 1863-1882.
Generais do Exército Português, coord. Coronel António José Pereira da Costa, 2008.
Mendo Castro Henriques, Vitoria e Pirinéus -1813- O exército português na libertação de Espanha, 2009.



[1] Excerptos Históricos e Collecção de Documentos relativos à Guerra denominada da Península… por Claudio de Chaby, volume 4, p. 707-708.

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