domingo, 2 de junho de 2013

O Imperador Quer!

L’Empereur veut plus que jamais, Monsieur le maréchal, que les mouvements de ses armées em Espagne soient dirigés dans le but de protéger et de couvrir les frontières de l’empire.[1]

Estas palavras do general Clarke, ministro da Guerra do governo francês, escritas ao marechal Jourdan, revelam sem margem para dúvidas o papel estratégico atribuído por Napoleão às forças francesas em Espanha durante 1813. Após a derrota na Rússia e com o seu domínio na Europa central ameaçado esse papel era necessariamente defensivo e de expetativa.


Retrato do rei José Bonaparte em uniforme de oficial espanhol

O rei José Bonaparte, colocado no trono de Espanha pelo irmão, era formalmente o comandante supremo dos exércitos franceses em Espanha tendo como conselheiro militar o marechal Jourdan. Mas a autonomia do rei José na definição das operações militares em Espanha sempre foi limitada pelo próprio Napoleão que lhe enviava ordens peremptórias, fazendo-o também diretamente aos diversos generais no terreno, minando a autoridade do rei. O poder político de José, sempre débil e dependente dos exércitos franceses, era nesta altura quase nulo, consequência sobretudo da campanha aliada de 1812, liderada por Wellington, que obrigou ao abandono pelos franceses de todo o sul de Espanha e levou ao recrudescimento da atividade dos bandos guerrilheiros no norte.

Na primavera de 1813 as forças francesas em Espanha encontravam-se divididas em seis exércitos, dois deles colocados na costa leste, l’Armée de Catalogne e l’Armée de Valence, sob o comando do marechal Suchet e que enfrentavam os exércitos espanhóis e a uma força anglo-siciliana naquela área. No norte e centro de Espanha encontravam-se l’Armée du Nord, comandado pelo general Clausel, l‘Armée du Centre, do general D’Erlon, l’Armée du Midi, do general Gazan e l’Armée du Portugal, comandado pelo general Reille.

Nesta altura, consubstanciando a sua visão estratégica para a Espanha, Napoleão ordenou ao rei José que transferisse o seu quartel-general de Madrid para Valladolid e dispusesse os exércitos do Centro e do Sul entre Madrid e Zamora para vigiar as forças aliadas, já comandadas superiormente por Wellington. Ao exército do Norte e a grande parte do de Portugal, reunidos sob o comando do general Clausel, reservava a difícil tarefa de sufocar a insurreição que grassava na Biscaia, Pais Basco, Navarra e Aragão. Napoleão considerava esta ação prioritária de forma a manter livres as comunicações com a França e obter recursos para os seus exércitos.

Além disso, Napoleão retirou dos exércitos de Espanha um considerável número de quadros e unidades para refazer o seu Grand Armée. As ordens vindas de Paris chegavam a Madrid com semanas ou mesmo meses de atraso devido à ação das guerrilhas espanholas e eram postas em prática demasiado tarde ou já estavam completamente desajustadas da realidade.


Marechal Jean-Baptiste Jourdan

Assim, em Maio de 1813, o estado de espírito do rei José e do seu estado-maior em Valladolid era marcado pela expetativa e apreensão. Esperavam que Wellington iniciasse a qualquer momento o seu movimento ofensivo para depois reagirem em conformidade, antevendo já dificuldades pois o cumprimento das ordens de Napoleão reduziu a força disponível para enfrentar no imediato os aliados para cerca de 50.000 homens. Ora este era um número claramente inferior ao das forças comandadas por Wellington.

Por outro lado as forças francesas encontravam-se dispostas entre Zamora e Toledo passando por Salamanca e Madrid. Era notório que a necessária concentração dessas forças tão dispersas seria problemática.

O estado-maior francês considerava que a direção mais provável do principal avanço aliado seria por Salamanca e daí sobre o Douro. Antecipando essa possibilidade tinha preparado um plano de concentração das forças francesas destinado a enfrentar os aliados na linha do Douro, calculando que essa concentração demoraria uma semana a contar do momento em que fossem conhecidos os movimentos de Wellington. Mesmo depois da concentração sobre a linha do Douro o estado-maior francês considerava que só seria possível aceitar batalha quando a essas forças se tivessem reunido as do general Clausel.

Assim resumimos de forma necessariamente breve a situação militar francesa em Espanha nas vésperas da campanha que iria decidir a sorte da Península.

Bibliografia:
Sir Charles Oman, A History of the Peninsular War, volume VI.
Mémoires et Correspondance Politique et Militaire du Roi Joseph, tome neuviéme.
Mémoires Militaires du Maréchal Jourdan (Guerre d'Espagne).




[1] Carta de Clarke para Jourdan de 16 de Março de 1813, in Mémoires et Correspondance Politique et Militaire du Roi Joseph, tome neuviéme, 1854, p. 220.

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