Na batalha de Vitoria os batalhões de caçadores portugueses foram
empenhados de forma intensa ao longo do dia, combatendo sempre na vanguarda das
colunas aliadas. Temperados nas campanhas dos três anos anteriores, exibiram
grande disciplina e eficácia em combate, afirmando-se como as unidades
portuguesas mais respeitadas pelos amigos e mais temidas pelo inimigo.
Destacamos o batalhão de caçadores nº 8, um dos que maiores perdas
sofreu na batalha de 21 de Junho de 1813, e que mereceu o louvor público de lord
Wellington, comandante em chefe aliado, nos despachos que enviou para os
governos português e britânico.[1]
Em Vitoria, o batalhão de caçadores nº 8 foi comandado pelo
tenente-coronel Dudley St. Leger Hill, e fazia parte da brigada portuguesa
comandada pelo brigadeiro William Spry, agregada à 5ª divisão aliada, do general
Oswald. Esta divisão fazia parte do corpo aliado que Wellington tinha destacado
para atacar a ala direita do dispositivo francês, apoiada no rio Zadorra, e
cortar a estrada que ligava Vitoria a França, a principal linha de retirada
francesa. Este corpo, que constituía a ala esquerda do exército aliado, estava
sob o comando do general sir Thomas Graham e era formada pelas duas brigadas
portuguesas independentes, a 1ª e a 5ª divisões, a divisão espanhola de Longa e
artilharia e cavalaria britânicas.
Para contextualizar a ação do batalhão apresentamos a tradução de
um excerto do relatório enviado pelo general Graham a Wellington depois da
batalha:
«O inimigo tinha uma divisão de infantaria, com alguma cavalaria
avançada, disposta sobre a estrada principal, apoiando a direita sobre umas
alturas de difícil acesso, cobrindo a povoação de Gamarra Maior. Tanto Gamarra
como Abechuco, esta na estrada principal, estavam fortemente ocupadas pelo
inimigo como testas-de-ponte para as pontes que nelas atravessam o Zadorra. Foi
ordenado ao General Pack, com a sua brigada de infantaria portuguesa e ao
coronel Longa com o seu corpo espanhol, que flanqueassem e ocupassem aquelas
alturas, apoiados pela brigada de dragões ligeiros do General Anson e pela 5ª
divisão comandada pelo General Oswald, ao qual foi atribuído o comando geral
sobre todas estas tropas. Na execução deste serviço as tropas portuguesas e espanholas comportaram-se admiravelmente. O 4º batalhão de Caçadores da brigada do general Pack e o 8º de Caçadores da 5ª divisão distinguiram-se particularmente.»[2]
Deixamos ao tenente-coronel Dudley St. Leger Hill a descrição mais detalhada da ação dos seus caçadores, que consta no relatório que enviou ao brigadeiro Spry e que traduzi-mos a partir do original conservado no Arquivo Histórico Militar, 1ª Divisão, 14ª Secção, Caixa nº 243, 18, ms 6 a 8.
(Ponte sobre o Rio Zadorra em Gamarra Mayor; fotografia do inicio do século XX. Retirada daqui.)
Deixamos ao tenente-coronel Dudley St. Leger Hill a descrição mais detalhada da ação dos seus caçadores, que consta no relatório que enviou ao brigadeiro Spry e que traduzi-mos a partir do original conservado no Arquivo Histórico Militar, 1ª Divisão, 14ª Secção, Caixa nº 243, 18, ms 6 a 8.
Documento: Tradução do relatório do tenente-coronel Dudley St.
Leger Hill para o Brigadeiro William Spry
Para o brigadeiro-general Spry
22 de Junho de 1813
Senhor
Tendo sido destacado da sua brigada durante a ação de ontem tenho
a honra de lhe comunicar, para informação de sua Excelência o Marechal Sir
William Beresford, que recebi ordem do major-general Oswald para colocar o 8º
de Caçadores sob o comando imediato do brigadeiro-general Pack e, em combinação
com o 4º de Caçadores, expulsar o inimigo das alturas por ele ocupadas na
frente da coluna da esquerda do Exército.
Esta ordem foi executada com a maior prontidão e eu não posso
dizer o suficiente em louvor da galhardia e desenvoltura dos meus soldados e
oficiais. As alturas a que tivemos de ascender eram de difícil acesso e o fogo
do inimigo bastante intenso mas mesmo assim nós conseguimos ir expulsando o
inimigo das várias colinas que ele foi ocupando sucessivamente e obrigando-o a
retirar para lá do rio [Zadorra].
O comportamento do batalhão na subsequente perseguição feita ao
inimigo após a retirada referida foi também digno de nota, tendo avançado na
vanguarda das várias linhas de colunas do Exército em combinação com o 4º de
Caçadores empurrando à sua frente as numerosas tropas ligeiras inimigas
de infantaria e de cavalaria.
Como o general Pack irá certamente informar sua Excelência
[Beresford] sobre a conduta das tropas empregues sob o seu comando peço-lhe que
chame a atenção a sua Excelência [Beresford] para o relatório do general e
também que no seu tenha a bondade de mencionar a sua opinião sobre o
comportamento do batalhão no inicio da ação, o qual não deve ter escapado à sua
observação.
Os oficiais do batalhão comportaram-se com grande bravura e
recomendar aqueles que se distinguiram seria injusto para todos. Tenho, no
entanto, de lhe pedir que informe sua Excelência da brava e destemida conduta
do sargento-ajudante do batalhão, o qual, em várias ocasiões durante o dia se
distinguiu, dirigindo o avanço das companhias exibindo grande sangue frio e procedendo
de forma judiciosa na colocação dos soldados que lhe foram confiados. O nome do
sargento-ajudante é Domingos Lopes e já tinha sido recomendado anteriormente
pela sua boa conduta.
Tenho a honra de ser o seu mais obediente criado
Dudley Hill
Tenente-Coronel 8º Caçadores
Nota 1: No site Napoleon Series é possível consultar um mapa da batalha de Vitoria.
Nota 2: As traduções são de Moisés Gaudêncio.
Senor Gaudencio,
ResponderEliminarI would like to know if you have similar first hand information about the Battle of Albuera from Portuguese soldiers present at the battle.
Guy Dempsey
guy.dempsey@gmail.com